segunda-feira, 9 de abril de 2007

Anjo de Calcinha


sou um saci de duas pernas e sutiã, ou soutien, dependendo do espectador. posso citar de augusto dos anjos a george orwel sem cair do salto 15. mas posso gostar de finjir submissa ajoelhada diante da cruz fálica e ereta do detentor da semente da perpetuação da espécie.
não estou no singular.
sou mulher por uma necessidade de dicotomização. poderia ser um homem. por que não um anjo, dependendo da situação? não. definitivamente não. seria de difícil nomenclatura. e nós amamos nomenclatura. adoramos classificar pessoas, situações e acontecimentos em pastas ordenadas. construímos nossos arquivos e esperamos ansiosamente algo ou alguém que caiba em nossas estantes. porém, muitos se esquecem de atualizar com certa frequência seus conceitos, ficando assim, como suas prateleiras, empoeirados.
não estou no singular.
bebo chá. tomo leite. ou chá com leite batidos no liquidificador. sou sim. sou não. talvez ás vezes. malabarista ou comcubina, mãe e filha. "se você vem numa boa pode vir, te dou pão e mingal, mas se você vem de cacete pode vir, que eu vou de ferro e pau". tom zé sacou bem minha flexibilidade.
e eu, acompanhada de meus vários "eus", continuo no plural.

terça-feira, 27 de março de 2007

Que Horas São?


Biblioteca. 17h e 23min. Trilha sonora: o barulho do ventilador. Em minha mesa: vários livros sobre diversos assuntos e inúmeras anotações indecifráveis que eu certamente me esquecerei de relacionar. Minha vontade: nenhuma.
Olho agora pela janela e não vejo sentido algum em olhar pela janela e não ver sentido. Poderia estar fazendo milhares de coisas e no entanto, fixo o olhar numa garota que usa óculos escuros num dia nublado e anda desajeitosamente incomodada com seu cabelo que não parece ser seu. Meu Deus, até ela tá fazendo algo. E para ajudar, meu relógio made in japan apita de 5 em 5 minutos desde as 15h. Não sei alterá-lo. Não importa, sou high-tech. Mas a impressão que dá é de que tenho um compromisso a cada 5 minutos - uma executiva, melhor, uma executiva administrativa, ou então uma executiva administrativa de uma multinacional, já sei, uma executiva administrativa de uma multinacional em espetaculosa ascenção. Sinto-me sobrecarregada.
Paro um pouco. Olho pela janela. Sou apenas o resultado de um processo de desenvolvimento econômico que, não só ampliou e aperfeiçoou a fabricação de relógios como enfiou-nos goela abaixo um "relógio moral". O puritanismo e a indústria, incestuosos como Édipo e a Rainha de Tebas, estão presentes em boa parcela da culpa que sentimos em FAZER NADA, ou na falta de sentido em olhar pela janela e ficar reparando o andar desajeitado de uma garota de óculos escuros num dia sem Sol.
Resistirei até o fim. Não sou puritana nem operária. A rede na varanda será minha bandeira. O relógio, queimarei na fogueira das inutilidades. A agenda, meu objeto de repúdio... Farei tudo isso, mas só daqui a pouco, porque agora lembrei que tenho milhares de coisas pra fazer e já passou da hora.

segunda-feira, 26 de março de 2007

EXTRA EXTRA: Notícia Velha Friazinha

TUDO SOBRE MEU IRMÃO

Quando pequena, sempre ganhava o mesmo que minha irmã. Presentes, bronca, comida. Não achava justo, afinal, sempre fui mais velha e mais gordinha que ela. Merecia mais presentes por estar mais perto do dia em que não mais ganharia afetos no dia das crianças. Merecia menos bronca por ser mais madura e, já que era eu quem assumia o papel de mãe substituta assim que a oficial virava as costas, era inconveniente me desmoralizar. E a mais injusta das injustiças: recebíamos o mesmo tanto de comida, eu tinha fofos quilinhos a mais, que deveriam ser saciados.
Cresci. E as mágoas daquele regime socialista familiar ficaram no passado. Mamãe ensinou bem e hoje sou capaz de dar uma bola de sorvete da minha casquinha se acaso cair no chão o picolé da minha irmã.
Lembrando das notícias de semanas atrás, foi-me impossível não fazer a seguinte observação: Nosso ilustríssimo governador Roberto Requião (PR) bem que poderia ter sido filho de minha mãe. Com o maior salário entre os governadores dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal, recebendo 113% a mais que seu antecessor no cargo e ganhando mais que o presidente da República, certamente levaria umas boas palmadas. Porém, tentariam explicar a nossa mãe que o humilde salário de R$24,5 mil, está dentro da lei (mas achariam desnecessário mencionar que é o equivalente ao teto máximo que pode ser pago a um membro do poder público brasileiro em qualquer instância ou poder), também diriam que a Lei Federal que permite esse salário foi sancionada pelo seu antecessor, Lerner, a quatro dias do fim de seu segundo mandato. E valeria a pena lembrar: o projeto para tal lei foi encaminhado à Assembléia Legislativa a pedido não de Requião e sim, do Deputado Estadual Caíto Quintana que, coincidentemente (e ai de mim duvidar das coincidências), estava prestes a assumir a chefia da Casa Civil de Requião, cargo que ocupou até o ano passado.
Quando criança, confesso, usava artimanhas a la Magaiver para conseguir mais presentes, menos bronca e mais comida. Crises inesperadas, carinhos articulados, doenças supersônicas. E como um grande conhecedor da psicologia infantil, o deputado Durval Amaral (PFL), presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Assembléia, opina, sabiamente, “É melhor remunerar bem do que ter a preocupação de que o governador busque outras fontes”.

Sentiu-se incomodado? E a notícia (essa fresquinha) de que a Comissão de Tributação e Finanças chegou a aprovar um aumento de 26,49% no salário dos parlamentares, de ministros e do vice e do presidente da República? Te causa desconforto? Tenho a solução: espere passar algumas semanas, ate as mãos ante os fatos e diga com toda a serenidade "fazer o quê? águas passadas não movem moinhos..."

sexta-feira, 16 de março de 2007

Cordialíssima

Você, um assíduo leitor de blogs, deve estar se perguntando "quem é e o que pensa essa pessoa de antecedentes desconhecidos e hábitos aparentemente rudimentares que agora habita meu espaço virtual?". Boa pergunta assíduo leitor. Pois é exatamente essa a questão que assola minhas filosóficas (tá bom, vai nessa) horas vagas e que eu gostaria de compartilhá-la, a partir de agora, com você, um assíduo leitor de blogs. Sem redundância, sem verdades universais, sem desvaneios (certeza?).
Desse modo, dou-me as "boas vindas", obrigada.
Não sei o que me levou a criar este blog, só sei que foi assim.